João Magalhães (1988) cresceu entre Londres e Lisboa. Sempre se interessou pelas artes - estudou arquitetura e especializou-se em moda, explorando a forma e a construção nas suas criações. Em 2014, criou a Morecco, que se iniciou como uma marca de acessórios, mas a evolução do conceito levou-a à ModaLisboa um ano mais tarde, com a primeira coleção completa de pronto-a-vestir.
João Magalhães explora um universo estético marcado pela androginia, pela exigência com os materiais e o corte, por técnicas artesanais, desde as malhas aos bordados à mão.
Em março de 2019, assinou a sua primeira coleção em nome próprio. As suas peças continuam a descolar-se de constrangimentos de género e idade, são livres de categorizações, mas agora descobre-se uma nova conceptualidade, mais próxima da visão do designer e do que imagina que deve ser o guarda-roupa da atualidade.
O que é que separa o Homem, a Natureza e a máquina? O que é que os une? Esta coleção tem como ponto de partida as questões lançadas pelo artista chinês AAA Jiao, que explora a comunicação robótica e a personificação da máquina na exposição AAAJIAO: User, Love, High Frequency Trading, patente na galeria Leo Xu Projects em Xangai, em 2018.
Esta primeira referência ganha dimensão com as pistas escritas por Donna Haraway em Cyborg Manifesto (1985), um ensaio que defende a ideia da dissolução de fronteiras entre o Homem, a Natureza e máquina. Projeta-se a junção dos três elementos num só, numa sociedade que funciona em rede, com mais empatia, por criar uma ligação constante e nos dar novas possibilidades ao redefinir os conceitos de sexualidade, trabalho e comunicação.
Questionam-se os papéis associados ao género. Folhos e silhuetas ligadas ao vestuário feminino são desconstruídos. A tecnologia é olhada com um novo otimismo e ganha forma nos materiais estampados desenvolvidos numa colaboração com o artista digital Guilherme Curado.
Materiais luminosos como o vinil e o silicone encontram equilíbrio com a leveza da organza e chiffon de seda, reforçando a ideia de diálogo entre o mundo natural e o man made. Estabelece-se um contraste interessante entre o minimalismo dos anos 90 - desde o slip dress ao universo estético imaculado de Carolyne Besset-Kennedy - com a extravagância das possibilidades do mundo virtual.
COLABORAÇÕES
Estampados: Guilherme Curado
Joalharia: Juliana Bezerra
Swimwear: Studio Areia